Quanto vale a Amazônia?
A REDUÇÃO COMPENSADA DO DESMATAMENTO É UMA FORMA DE ESTABELECER UM VALOR POSITIVO PARA A FLORESTA EM PÉ
Há muito se alardeiam valores inestimáveis da maior floresta tropical do mundo. Fala-se no valor de sua diversidade biológica para a futura cura de doenças graves, nos bilhões creditados à madeira e ao potencial de geração de renda do manejo sustentável dos recursos florestais, especialmente quando feito por pequenas comunidades de amazônidas. Apesar desse valor presumido, o desmatamento segue em ritmo alarmante – em média 2 milhões de hectares de florestas por ano –, seguindo a tendência dos últimos 20 anos. E isto por um simples fato: a floresta, excetuando-se a madeira que abriga, não tem valor monetário algum quando em pé.
É fato que já há mercados para os produtos da floresta amazônica, os quais são extremamente importantes. No entanto, pelo que se vê, parece ainda muito pouco para impulsionar uma atividade econômica capaz de reverter a tendência do desmatamento atual. Floresta boa, portanto, continua sendo a floresta derrubada.
Até agora, 60 milhões de hectares de mata, uma área duas vezes a do Estado de São Paulo, foram derrubados para a implementação de pastagens extensivas de baixa produtividade. Um terço da área coberta por essas pastagens – cerca de 20 milhões de hectares – encontra-se abandonado mas, ainda hoje, 60% a 70% do desmatamento resulta da conversão de florestas em pastos de uso extensivo. Isso tudo sem gerar distribuição de renda: cerca de 43% da população da Amazônia possui renda per capita abaixo da linha de pobreza e 10% da riqueza regional está concentrada em 1% da população.
Pelo que tudo indica, no mundo globalizado, a floresta continuará perdendo espaço para outros usos da terra, em especial a agropecuária. A escassez atual de terras para a expansão da agroindústria nos países do Hemisfério Norte aumenta a pressão pelas terras abundantes do Sul e, obviamente, aquelas com florestas tropicais. Além disso, outros fatores potencializam a demanda por novas terras para cultivo. O desenvolvimento de tecnologias de cultivo de grãos e criação bovina mais apropriada aos trópicos e a ocorrência de doenças como a da vaca louca na Europa geram condições favoráveis para que a carne produzida de modo extensivo, como nos pastos amazônicos, ganhe preferência.
A soja, usada na fabricação de ração animal para abastecer o mercado chinês, adiciona pressão por novas áreas de cultivo. O aumento da demanda por soja também é resultado da proibição recente do uso de cadáveres bovinos na fabricação de ração animal em função do surto da vaca louca (para mais detalhes, http://www.ipam.org.br/noticias/Amazonia_no_caminho.pdf).
De modo complementar, a redução dos subsídios agrícolas nos Estados Unidos e na Europa aumenta a busca por novas áreas de cultivo. Por fim, a variação cambial tem um papel importante nesse contexto de um mercado internacional associado à demanda por novas áreas de cultivo. Sob um real desvalorizado, o desmatamento deverá aumentar – como ocorreu nos últimos quatro anos. Com um real mais forte, ou com preços internacionais de soja e carne mais baixos, o desmatamento deverá sofrer retração, como em 2005.
Essa dinâmica econômica global relacionada à agroindústria indica que floresta só fica em pé quando o custo de derrubada – manter floresta em pé, sob esse aspecto, é caro – torna-se maior do que o ganho potencial com a conversão para outro uso. Sem quebrar essa relação, conservar grandes áreas com florestas tropicais será muito difícil.
Apesar do sucesso recente no combate a fatores que geram desmatamento, os esforços de comando-e-controle só terão efeito se for encontrado um mecanismo capaz de valorar a floresta em pé, de modo a ir além dos valores monetários conferidos aos seus recursos florestais e não florestais. Esse certamente é o desafio maior para o estabelecimento de uma economia sustentável e ambientalmente saudável na Amazônia.
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ResponderExcluirOs brasileiros deviam cuidar e valorizar o que tem. As queimadas e o desmatamento feitos na Floresta Amazônia pioram ainda mais o aquecimento global, sem falar da grande perda da fauna e flora da floresta.
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