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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Atualidades- O desafio de recomeçar

Vencer o alcoolismo é uma batalha dura e sem tréguas. No Brasil, 5% das mulheres sofrem desse mal, muitas às escondidas, por vergonha ou preconceito. Pedir ajuda é o primeiro passo para a vitória

Marianne Piemonte

Depois do café da manhã, as duas colegas que dividem o apartamento se levantam apressadas da mesa, escovam os dentes, retocam o batom e saem correndo para ir trabalhar. No hall do elevador, uma delas pede à amiga que vá na frente. Inventa que esqueceu um papel. Depois de se certificar que o elevador desceu, corre para o banheiro. E passa a despejar o líquido de todos os vidros de perfume no ralo. Com as mãos trêmulas, gestos ansiosos, retira uma garrafa de vodca do armário do banheiro e enche os frascos com a bebida. Toma uma golada no gargalo de algum dos frascos que agora contêm vodca. Só então o dia começa para ela.

Essa cena poderia ter sido escrita pelo autor da novela das 8, Manoel Carlos, para a personagem Santana, a professora interpretada pela atriz Vera Holtz, em "Mulheres Apaixonadas". No entanto, é uma passagem real da vida da esteticista Vânia Lúcia de Souza Monte, 54 anos. Vânia e 5% da população feminina brasileira sofrem de uma doença que está cada vez mais comum entre as mulheres: o alcoolismo. "Normalmente, quando elas buscam ajuda nos hospitais já estão em estágio muito avançado de alcoolismo. Além disso, a idade média delas caiu. Antes chegavam aqui com 40 anos, hoje a maioria tem cerca de 25. A cada dia vemos chegar mais mulheres em nosso ambulatório, mas os homens ainda são a maioria, cerca de 15% da população masculina", explica a médica coordenadora da Unidade de Tratamento de Álcool e Drogas (Uniad), do Hospital São Paulo, Neliana Buzi Figlie.

A enfermeira especialista em saúde mental, psiquiatria e dependência química, Márcia Camara Fonsi, acredita que o fenômeno não é novo, que, historicamente, as mulheres sempre beberam. "E sempre beberam escondidas, em casa, com medo do estigma de fácil e vulgar que acompanha a mulher com o copo na mão. Desde os gregos e romanos, mulheres que bebiam eram tachadas como prostitutas. Nos grupos de apoio que eu coordeno vi casos como o da senhora que passa a beber depois que os filhos crescem e saem de casa. Ou da jovem que é impedida pelo marido de trabalhar, sente-se inútil e começa a se afogar no álcool. Outras foram iniciadas na bebida pelo próprio parceiro. Há também muitas mulheres deprimidas, outras tantas insatisfeitas sexualmente. O alcoolismo feminino é velho. Nova é a coragem que hoje elas estão tendo de pedir ajuda."

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